Refluxo
Vésico-Ureteral
Descoberto no final do século
XIX, o refluxo vésico-ureteral tem uma história marcada
por períodos distintos. Hutch nos anos cinqüenta chamou
a atenção para a junção vésico-ureteral,
demonstrando a responsabilidade da mesma na etiologia do refluxo
vésico-ureteral e propondo uma maneira de cura-lo.
Unidade anatômica
e mecanismo anti-refluxo
1 – Longo trajeto submucoso
2 – Fixação sólida do ureter no trígono
3 – Parede vesical posterior
4 – Espaço de Waldeyer
5 – Contração do trígono
6 – Oclusão do ureter terminal
7 – Peristaltismo ureteral
É o início da “fase
cirúrgica”, que viu explodir numerosas técnicas,
como as de Leadbetter e Politano em 1958, Gregoir em 1964 e Cohen
em 1975. Com estas técnicas e a experiência adquirida,
somando os excelentes resultados, operamos muitas crianças
com refluxo. Em oposição a esta atitude agressiva,
os autores ingleses entraram em uma “fase medicamentosa”.
Os trabalhos experimentais de Philip Hansley demonstraram não
só a etiologia e o mecanismo das lesões renais, como
também a possibilidade da cura do refluxo com profilaxia
medicamentosa e ausência de cirurgia.
A = papila
simples B = papila composta (refluxo intra-renal)
Mais recentemente, com o auxílio
do exame urodinâmico, evidenciou-se o papel da disfunção
vésico-esfincteriana, mesmo discreta, na etiologia ou manutenção
do refluxo.
Em resumo, hoje, com estes conhecimentos, podemos fazer uma análise
objetiva da criança com refluxo e combinar os métodos
terapêuticos, tanto clínicos como cirúrgicos,
para melhor protegermos os rins de nossos pacientes.
Definição
O refluxo vésico-ureteral é o retorno de urina da
bexiga para o rim, devido a uma incompetência do sistema valvular
da junção uretero-vesical. Isto acontece devido a
dois mecanismos:
Primário
É uma anomalia isolada e congênita do sistema anti-refluxo.
Secundário
É uma anomalia adquirida que afeta o sistema anti-refluxo,
podendo ser uma lesão local ou um defeito de funcionamento
vésico-esfincteriano (hiper-pressão vesical, de-
feito de esvaziamento vesical,...)
Consequências
Elas são múltiplas
Infecção:
Como em todas as uropatias, o refluxo não é ocasionado
pela infecção, mas pela estase ureterovesical. O
risco é exatamente por levar a infecção até
o parênquima renal.
Cicatrizes
no parênquima renal: São lesões muito
graves, sendo denominada nefropatia do refluxo. Podem ser detectadas
de duas formas:
• Cicatrizes córtico-papilares:
São focais, lesando a região drenada por um ou mais
cálices, com isto determinando uma cicatriz focal e alterando
o contorno renal.
• Contração renal: É
uma lesão global do rim com contração homogênea,
levando a uma diminuição do parênquima como
um todo. É mais rara.
Urografia demonstrando nefropatia
do refluxo
Estas lesões são decorrentes
do refluxo intra-renal.
Clínica
Quadro de infecção urinária recidivante é
o dado mais freqüente encontrado em crianças portadoras
de refluxo (90% dos casos). Os outros 10% são crianças
onde o refluxo é um achado: antecedentes de refluxo, US antenatal,
pesquisa de outra patologia (estenose JUP, litíase,...).
Diagnóstico
Normalmente é feito com o uso de ultrassom ou urografia excretora
para avaliação do trato urinário alto e uretrocistografia
ou cistografia isotópica para avaliar a bexiga, ureteres
e uretra. Estes métodos poderão demonstrar a existência
de outras anoma- lias vesicais associadas, como divertículo
paraureteral e ureterocele.
Nos casos em que houver suspeita clínica
de obstrução, a urodinâmica deve ser realizada.
Classificação
Existem múltiplas classificações descritas
na literatura. A que nós utilizamos
é a chamada internacional (Comitê Internacional de
Estudo do Refluxo).
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Grau I – refluxo no ureter
pélvico
Grau II – refluxo ureteropielocalicilar sem dilatação
Grau III – refluxo ureteropielocalicilar com dilatação
Grau IV – Dilatação ureteropielocalicilar, com
baqueteamento e deformação calicilar
Grau V – Dilatação e tortuosidade ureteral intensa,
com dilatação e deformidação das papilas.
RIR – Refluxo intra-renal não faz parte da classificação,
mas é um fator de gravidade a mais.
Devemos lembrar casos particulares:
1 – Refluxo em duplicidade ureteral – Normalmente o
refluxo ocorre na unidade inferior devido ao trajeto intravesical
mais curto; porém, ele pode ocorrer raramente na unidade
superior.
2 – Refluxo associado à estenose de JUP – Ele
pode ser conseqüência , em refluxos graves Grau V ou
apresentar-se como dois defeitos congênitos.
3 – Megaureter com refluxo – É complexo e necessita
de tratamento individual, geral- mente cirúrgico.
Tratamento
• Clínico
Tem como objetivo o tratamento da infecção inicial,
seguido de quimiopro-filaxia com o intuito de evitar recidivas e
aguardar o crescimento da criança visando o desaparecimento
do refluxo. Vários fatores devem ser avaliados para se tomar
a decisão de se tratar clinicamente:
a) baixo grau do refluxo;
b) ausência de patologias associadas;
c) família confiável;
d) ausência de recidivas infecciosas.
A medicação deve ser á base de quimioterápicos
(ás vezes antibióticos) em subdosagem de forma contínua
e com controle laboratorial periódico. A avaliação
radioló - gica deve ser anual. Se houver disfunção
miccional o tratamento deve ser concomitante.
• Cirúrgico
Ele é necessário quando encontramos anomalias orificiais
importantes, quando há patologias associadas ou quando não
se consegue controlar a infecção.O princípio
de todas as técnicas cirúrgicas é o de recriar
um trajeto submucoso mais longo, para restabelecer um sistema valvular
competente.
• Técnicas Extravesicais
As principais são as descritas por Lich e Gregoir
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A – Incisão do detrusor
B – Criação do leito ureteral
C – Colocação do ureter dentro do leito, contra
a mucosa
D – Fechamento do detrusor sobre o ureter
• Técnicas Intravesicais
Elas são inúmeras, porém todas obedecem aos
mesmos princípios.
A – Dissecção
intravesical do ureter
B – Politano-Leadbetter – o ureter penetra na bexiga
por um orifício mais alto e vem se implantar no local original.
C – Cohen – o ureter guarda o seu local original de
entrada na bexiga. O túnel submucoso é transversal.
D – Glenn Anderson – o orifício de entrada é
o mesmo; porém, o avançamento é em direção
ao colo vesical.
• Casos Especiais
Cada caso deve ser analisado individualmente; porém, existem
certas condutas que adotamos de forma geral.
a) Refluxo bilateral – Quando existe ou mesmo
existiu refluxo bilateral optamos por realizar a cirurgia bilateralmente,
no mesmo tempo, intra ou extra-vesical.
Técnica de Cohen bilateral
A – Dissecção dos dois ureteres
B – Passagem dos dois ureteres paralelamente no mesmo túnel
b) Divertículo paraureteral – Deve ser dissecado
ao mesmo tempo que o ureter e colocado para dentro da bexiga. Quando
muito grandes devem ser resseca-dos.
c) Duplicidade ureteral – Os dois ureteres são
dissecados conjuntamente, sendo feita uma incisão perimeatal
única. (os dois são tratados como um só).
d) Megaureter com refluxo – Quando muito dilatado
fazemos uma ressecção com remodelagem e geralmente
associamos a técnica de bexiga psôica.
e) Refluxo + Estenose de junção pieloureteral
– Tratamos primeiro a estenose de JUP e posteriormente, em
outro tempo, o refluxo.
A – Reimplante de ureter duplo
B – Megaureter – modelagem à Hendren
C – Bexiga psôica – utilizada em casos de ureter
curto ou megaureter
• Tratamento Endoscópico
Consiste na injeção submucosa de uma substância
que promoverá um alongamento do trajeto ureteral submucoso,
melhorando a “válvula”. Várias substâncias
podem ser utilizadas. Os trabalhos científicos demonstram
análises estatíticas muito interessantes; porém,
ao se avaliar verificamos que muitos pacientes são portadores
de refluxo de baixo grau e que poderiam ser curados com acompanhamento.
• Técnica – introduzimos uma
agulha endoscópica através do cistoscópio e
a dirigimos para a entrada do meato, perfurando a mucosa em sua
porção posterior. A seguir injetamos a substância
em quantidade suficiente para ocluir a visão do meato.
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Substâncias
Teflon – Micropartículas de PTFE (politetrafluoroetileno)
embebidas em glicerina. Possui uma grande inércia química
e biológica. A crítica a esta substância é
a sua migração para outros órgãos, sobretudo
pulmão. Não foi descrita nenhuma complicação
de seu implante.
Colágeno – É uma pasta constituída
de fibras de colágeno purificado de origem bovina. Além
de sua migração, pode provocar reação
alérgica e sua limitação é o preço.
Silicone – É formado de microesferas
de silicone (polidimetilsiloxane) em suspensão em um hidrogel
reabsorvível. A vantagem sobre o teflon é o fato de
não migrar e a desvantagem é o preço.
Dextranômero – São microesferas
em uma solução de ácido hialurônico estabilizado,
de origem não animal. Quimicamente são polisacarídeos
biodegradáveis, não apresentando reação
alérgica e não migram. Seu inconveniente é
o preço muito elevado.
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